domingo, 12 de julho de 2015

Uma maneira barata de se suicidar , em Salvador



Suicídios em Salvador

Houve um tempo em que a população era surpreendida com a notícia de que alguém havia se suicidado na cidade e como na época  ela  era relativamente pequena, estou falando , provavelmente do fim da década de 40 início de 50, usando só a memória de criança e as fofocas  que ouvia  circulando. Todo mundo falava do mesmo assunto.
Quando acontecia, era o assunto do dia !
Suicídio, infelizmente, é algo normal , pelo menos para nós hoje em dia, mas, na época , era um absurdo, uma tragédia que chocava a população . E eu prevejo, hoje ,  que, com a situação política que estamos atravessando, muita gente vai escolher este caminho para se livrar dos problemas deste mundo dominado pelos homens maus e que não querem largar as tetas das vacas leiteiras $$$$$$  !... Poder + muita grana, quem é que quer abrir mão ?
Bem, mas continuando : durante muito tempo aconteceram suicídios em Salvador e sempre houve algo em comum entre eles . Havia um ponto e ainda há, na cidade , que era perfeito e o predileto dos cidadões , para os vôos da morte rápida e barata . Era o famoso Elevador Lacerda o maaior catão postal da cidade  ! Vocês observaram que toda a parte envidraçada que contorna o balanço e nos oferece uma visão panorâmica daquele local ,  tem grades de ferro na parte externa  ? Pois bem , elas foram colocadas  justamente  para terminar com a série de suicídios a partir do próprio elevador. O cara ia lá , subia a janela e se lançava no ar... num vôo de poucos segundos e ia se estatelar no asfalto da praça Cayru.
Com a colocação das grades,o Lacerda tornou-se impraticável. Mas havia uma outra solução para os candidatos ao suicídio. Não podendo se lançar do Lacerda , começaram a se utilizar do Edifício Sulacap na esquina da Ladeira de São Bento com o início da Rua Carlos Gomes. Desconheço as providências que foram adotadas mas ,  ou modificaram o sistema , ou alguma foi feita no Sulacap, que promoveu o término de mergulhos da sua parte mais alta.. Agora, quem quer se matar tem vários outros meios. Na época , era difícil se conseguir uma arma de fogo. Nunca ouvi falar de que alguém por aqui se suicidou usando uma arma de fogo ou mesmo  uma faca... a chamada e famosa peixeira do nordestina que servia mais para mais para limpar ´peixe, cortar xarque e, vez por outra , mandar mesmo alguém para o além...!
O relato acima, está apoiado apenas nos fatos guardados na minha memória de criança . É muito provável que muitas pessoas desconheçam esta curiosidade, vamos chamar assim.
E, logo ,logo, um poeta de rua lançava um livreto de cordel que expunha na Praça Cayru onde tudo o que acontecia na cidade vinha a se saber, justamente através destes livretos de cordel apregoados pessoalmente pelos editores. ! Até parecia um milagre. Bastava acontecer , que no dia seguinte a história aparecia nos livretos sustentados nos cordéis esticados entre uma árvore e outra... Bastava acontecer um escândalo, que a história estaria nos livretos,  em versos para toda a população curtir . Tragédias em versos,  carregados de humor, virando diversão e literatura.! Há muita gente, hoje, que coleciona tais livretos de cordéis...


Sarnelli, 12.07.2005.