terça-feira, 7 de abril de 2009




O passeio do amigo Reinhard






Com o consentimento do Reinhard , estou colocando no ar uma das suas tantas crônicas , que são sempre interessantes...


Detalhes sobre Trilhos

Outro dia, comparando a Alemanha à locomotiva do continente europeu, atribui toda a responsabilidade pelo desenvolvimento do velho mundo àquele cavalão de ferro que todo garoto sonha um dia em manobrar e conduzir..
Naquela hora me lembrei de uma viagem de trem num daqueles vagões de compartimento único, indo com parentes e amigos de Amsterdam a Heidelberg. Aproveitamos o leve e monótono ruído, aquele "tuqui-tuqui" das rodas sobre as emendas dos trilhos para iniciar uma batucada... chamando a atenção dos demais passageiros.

Hoje desconfio que eu tenha exagerado, dando àquele pesadíssimo monstrengo metálico movido a vapor, óleo Diesel ou energia elétrica muito mais importância do que devia.
Pensando bem, locomotivas nada seriam sem os dormentes, os trilhos, sem os ferroviários que cuidam da segurança, do fluxo dinâmico das composições... e principalmente sem os passos apressados de uma multidão pacata de passageiros.
Tudo iso pertence à Europa com a naturalidade como o sangue que circula em nossas veias e artérias.

O que nos países industrializados há séculos faz parte das paisagens, como os próprios vales por onde passam as ferrovias, com os silvos dos chefes das estações tendo importância igual à sirene das fábricas, o batimento do coração de cada um... de Lisboa, passando por Paris, Viena, Moscow até a China e o Extremo Oriente, de Athenas até Hammerfest, de Oostende até Istambul... da Costa Leste da América do Norte até a Costa do Pacífico...

O que nos países industrializados tem jeito de algo perene e imutável, no Brasil parece efêmero, tendo importância pontual, dependendo de interesses econômicos e políticos instáveis... e do preço de certos commodities.

Tem sido assim com a ferrovia Madeira-Mamoré, com a linha de Iaçú a Senhor do Bonfim, da qual eu era usuário há uns 40 anos, viajando de Jequitibá a Jacobina.
Ferrovias que já não existem mais há muitos anos.
Permanecem no local apenas as ruínas de estações e pedaços de trilhos transformados em "mata-burros" que dividem pastagens de fazendas de gado.

Mesmo passando apenas uma vez por dia, o próprio trem e também as estações pareciam ter mais vida do que as ferrovias da Europa.
Ainda me lembro da expressão de surpresa no rosto dos demais companheiros de viagem
naquele vagão entre Amsterdam e Heidelberg ao escutar a nossa batucada.

Aqui na Bahia, além de toda vida, há ainda um outro ingrediente para colorir o que lá fora é massacrado e extirpado por uma pontualidade banal, asséptica e sem graça: o "peraí".
Nos ouvidos de minha imaginação já está soando a batucada num ônibus cheio de banhistas aos domingos... além das cornetas de torcedores do Baêêa voltando da novíssima Fonte Nova via Campo da Pólvora até a Rótula do Abacaxi, com o "peraí" sendo entoado em uníssono em cada uma das três estações ao longo do caminho...

- Ué... acabou? Que crônica curta! -

- É para combinar com o tamanho do trajeto do Metrô de Salvador -



Salvador 5 de abril de 2009

Reinhard Lackinger

Nota do Sarnelli - O cronista se aproveita da novela do metrô, que ninguém sabe quando vai sair, se é que vai sair , e, sobretudo , da pequeniníssima extensão do mesmo , que consideramos uma piada , mas serve para promessas. Não é época de prometer ?

2 comentários:

  1. O metro de Salvador cheira a ser mais um daqueles esquemas politicos para fazer fazer caixa de campanha ou pura roubalheira mesmo.

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  2. Mais uma vez vejo que o ditado que diz que "Há lugar para todos, sob o sol" é muito verdadeiro: Reinhard tem um estilo diferente do teu, Bartolo, mas também escreve de um jeito muito especial, com uma pitada de ironia que dá um tempero delicioso (Acho que é assim que ele conduz o Bistrô).
    Que ele apareça por aqui mais vezes!

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