segunda-feira, 30 de março de 2009

Voltando da pesca


Canoa sendo retida do mar após a pesca




Esta manhã estávamos indo visitar as nossas netinhas lá para as bandas de Itapoã , quando vi , passando pela praia de Amaralina , o que tinha acabado de ser uma puxada de rede . Pedi à minha mulher que encostasse o carro , desci , saquei algumas fotos dos pescadores tirando a canoa do mar e empurrando-a para a praia. A cena , para você imaginar : mar calmo e azul até o horizonte, ondas se espreguiçando na areia , céu da mesma cor e limpo de nuvens, muito sol , uma canoa , que é uma embarcação comprida cavada em um longo tronco de árvore , e muitos homens, pescadores, de ambos os lados, a maioria negros e todos tostados pelo sol , empurrando-a sobre fortes rolos de madeira para colocar a embarcação a seco , vencendo um forte aclive de areia fofa ! A canoa, em si , já é pesada , imaginem a força necessária para movimentá-la , ainda por cima , molhada !

A digital marcará a foto com a data de 29.03.2009 , dia do 460° aniversário da cidade do Salvador, fundada pelo português Tomé de Souza.

Algo que eu não vejo há muito tempo, é uma puxada de rede... Eu era criança e sempre estava vendo numa praia ou em outra,

aqui na orla de Salvador , da Barra a Itapoã , uma puxada de rede , da qual participavam, além dos próprios pescadores, gente do povo , moradores das proximidades de onde a pesca estava acontecendo, para ajudar a puxar a imensa e pesada rede que era colocada no mar , cercando enormes cardumes de peixes, normalmente xaréus . A puxada de rede era conhecida como pesca do xaréu . A rede era levada para o mar por canoas , após a localização de um grande cardume de peixes , que eram cercados e aprisionados dentro do círculo que ela formava . Era, então , puxada para praia , através de grossas cordas presas em ambas as pontas e sob cânticos apropriados, mantendo o ritmo da “ puxada “... Além de pesada por si só , a dificuldade ainda aumentava de acordo com a quantidade de peixes que estavam aprisionados. Uma puxada exigia a presença de muitas pessoas além dos pescadores. Era mesmo um acontecimento e todos ganhavam o seu prêmio . Parte dos peixes era levada pelo povão . Belos xaréus , grandes suficientes para uma uma boa moqueca ou mesmo na brasa . Era algo típico , cuja origem vem dos tempos da escravidão . Escravos libertos e sem trabalho, se dedicaram à pesca e um dos pontos mais conhecidos por aqui , era a praia do “ Chega nego “ , conhecida hoje como “Praia da armação “. O nome de Praia do Chega nego “ vem do fato de que tal praia , que fica a meio caminho entre Amaralina e Itapoã, era o local preferido para o desembarque de escravos . Os xaréus sumiram, a pesca acabou , mas alguns poucos pescadores ainda conservam algumas canoas , conseguem localizar alguns cardumes , que capturam para a sua subsistência e da sua família. Os que têm o DNA ( data de nascimento antiga ) como eu, que viram a pesca do xaréu, que comeram gostosas moquecas do tal peixe, que o digam. Na verdade , eles sumiram da costa . Outros tipos , que eram freqüentes, como as guaricemas,as cavalas, cavalinhas, agulhões , os barbeiros, os bodiões e outros tantos, também não enconstam mais . Viraram recordação , depois da instalação do emissário submarino... – Uma pena , ficamos na saudade !... Para compensar , ainda podemos fazer uma excursão marítima, partindo da Praia do Forte para ir ver as baleias que nos visitam na época do acasalamento e, com um pouquinho de sorte, até passar a mãos no costado de uma delas e ainda tomar um chuveirinho ...

Sarnelli , 29.03.2009


2 comentários:

  1. Bartolo, você me fez recordar que eu já puxei uma rede na praia do Chega-nego faz muito tempo. Eu ia passando de carro pela orla num dia de semana e vi aquela movimentação na areia e fui me juntar a eles e até cantei! Ajudei a catar os peixes que não eram graudos e de resto não me lembro mais de nada.Pensando bem, já me meti em um monte de coisas nesta vida.

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  2. Bartolo, assim é covardia: postar aquilo que é tão típico da Bahia! Tão povo! Tão verdadeiro! E com uma imagem tão linda! Com isto, meu amigo, consegues fazer com que aumente ainda mais meu encantamento pela Bahia, por Salvador, por esta gente tão bonita, pela história deste povo, pelos costumes e tradições.
    Obrigada por mais este presente!

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