sexta-feira, 29 de maio de 2009

Os 40 anos da chegada do Reinhard ao Brasil





A taverna mais famosa de Salvador,está bem pertinho desta praia, que é a do Porto da Barra , onde desembarcou Tomé de Souza para fundar a cidade do Salvador, um dos amores do taverneiro austríaco mais baiano que conheço . Ao fundo, o Forte de Santa Maria e a praia do Porto da Barra ,em dia de festa , ainda cedo, no inicio do dia...



As primeiras histórias do Reinhard chegando ao Brasil há 40 anos. Esta postagem está devidamente autorizada pelo autor.



Bem , antes de convidar os clientes do Bistrô PortoSol para passeios gastronômicos à Áustria dos anos 50 do século passado, eu já havia viajado numa máquina do tempo.

O desembarque no Rio de Janeiro teve um imprevisto. O pessoal da alfândega não quis liberar o meu baú de ferro contendo além de objetos pessoais, diversos instrumentos que me seriam úteis no ensino metalúrgico no interior da Bahia... mais precisamente em Jequitibá, município de Mundo Novo. Como ingênuo austríaco, não compreendi o porquê da lista dos itens que trazia, carimbada e assinada pelo então embaixador brasileiro em Viena não ser aceito... e como não estava disposto a pagar NCR 50,00 isto é, 50 cruzeiros novos naquele maio de 1969, a um despachante, levei 11 dias vendo um processo acumular um calhamaço de papéis de quase 20cm de altura. A bem da verdade, só passei as manhãs na alfândega, sendo mandado de Poncio para Pilatos. As tardes passei na Praia de Ipanema, visitando a cidade, o Corcovado, o Jardim Botânico, o Pão de Açucar... Adorei o Rio, embora super-estranho para mim. Sentia clima de verão, porém estranhei a chegada prematura da noite... Na Áustria, dias de verão terminam depois das 22 horas... sem falar do firmamento que parecia estar de cabeça para baixo. Cadê a ursa maior, ursa menor etc? Arquivei todas essas novidades entre as coisas "exóticas" que eu era disposto a enfrentar.

Finalmente peguei o ônibus comercial da Itapemirim até Salvador. Como não havia mais carro até Ruy Barbosa naquele dia, me aconselharam a pegar um ônibus até Itaberaba. Chegando novamente a Feira de Santana, um susto! Estaria eu voltando ao Rio de Janeiro? Companheiros de viagem me tranquilizaram dizendo que o caminho era esse mesmo... Tranqüilo , só fiquei mesmo quando o ônibus deixou a Rio-Bahia e seguiu noite fresquinha adentro através da caatinga a Itaberaba, onde consegui um lugar entre mais outros três ou quatro passageiros, todos tipos de tralhas, inclusive as minhas, galinhas e quem sabe um porco. De Ruy Barbosa até Jequitibá acabei indo de carona com o chefe do projeto, onde eu iria instalar o ensino metalúrgico.

A paisagem através os últimos 20km e de Macajuba até Jequitibá se parecia com gravuras de Lucas Cranach do século XV. Quando finalmente cheguei ao mosteiro de Jequitibá, me vi instalado e morando numa cela de monge e submetido a uma ordem monástica em meio do nada. Foi quando percebi que apesar da longa viagem de trem de Kapfenberg na Áustria até a cidade portuária de Genova, a travessia do Oceano Atlântico até o Rio e a viagem até a Bahia, eu não consegui chegar ao Brasil de verdade... Senti que havia voltado à Áustria... do século XVIII. Era como se eu tivesse caído dentro do cenário do romance de Umberto Eco "O nome da rosa".

Com o meu projeto em Jequitibá eu ganhei um pesadelo... enquanto os monges ganharam um herege.

Brasil em todas as dimensões eu só iria conhecer a partir de minha vinda para Salvador, convidado a ensinar na Escola Técnica Federal da Bahia um ano e meio depois...

Amem

Reinhard Lackinger

esse texto é patrocínado pelo Bistrô PortoSol. Se você não quiser receber mais essas baboseiras, é só mandar um e-mail dizendo: me tire da lista!


quinta-feira, 28 de maio de 2009

Uma historinha ao nascer do dia ...



Esta foto nada tem a ver com a historinha que vai aparecer nesta página. É apenas uma bela visão da Baía de Todos os Santos, Salvador/Ba , para ilustar o texto e não deixar o espaço vazio . Como é muito bela, aproveite para curtir e para ficar com vontade de vir a Salvador.






Esta historinha é verídica e saiu num daqueles momentos em que a gente bate com um vizinho na pracinha , bem cedinho pela manhã, e coincide que ambos estão indo na mesma direção e fazendo a mesma coisa, ou seja , a sua hora de cooper. Com trajes apropriados , tênis , boné ... caminhando pela orla marítima , vendo as ondas chegarem à praia e se esparramarem preguiçosamente sobre a areia , deixando lindos bordados em espuma branca . O dia clareando , o sol subindo no céu que vai se tornando azul, algumas nuvens brancas , o horizonte, lá longe , e um navio que não dava para saber em que direção ia..., Conversa vai, conversa vem, um pouco de tudo , problemas pessoais que podem ser contados e comentários sobre vizinhos do bairro. Eu não costumo , mas o meu companheiro era do tipo que achava defeito em todo mundo mas, acho eu, nunca se olhou direito num espelho! É necessário que eu diga logo que se tratava de uma pessoa que estava bem na vida o que não quer dizer que estivesse de bem com a vida. Para ele , havia sempre algo ou alguém a ser criticado, mas o certo é que ele mesmo, era o único ser vivente decente ! Eu sei que há um ditado que diz que, antes só do que mal acompanhado , mas não havia como fugir dele. As circunstâncias do dia que estava nascendo nos colocaram juntos e então, a única coisa que pude fazer foi acompanhar-lhe os passos e ouvir. Antes de mais nada, um detalhe : por estar bem de vida, o homem colecionava um pouco de tudo, inclusive jóias e objetos em ouro , evidentemente, quadros, estatuetas, etc . Possuí imóveis e, tanto ele quanto a esposa , profissionais, bem empregados, tinham renda suficiente para custear as suas manias, mas, nem por isso, deixou de ser , e continua sendo , um verdadeiro mão de vaca... Aqui está a historinha. Um dia, não posso dizer quando, mas aconteceu ! Alguém que não fora convidado, invadiu a sua casa e por não ter a chave nem conhecer-lhe o segredo, arrombou um cofre-forte que não se demonstrou tão forte assim , mas era um colosso , modelo antigo e de duas portas na parte superior. Pegou jóias e ouro... Claro que a primeira providência foi registrar uma queixa, mas é claro que também nesse ambiente, sempre é levada em consideração as condições sociais e financeiras da vítima para determinar a importância e urgência das investigações. Passaram-se uns quinze dias e essa pessoa foi chamada para identificar umas peças que haviam sido apreendidas com um indivíduo . Não deu outra ! Lá estava quase tudo , mas faltava uma parte que já havia sido vendida ou derretida . Um problema ! Como resolver o assunto ? Facilmente . Fazendo uma avaliação do mais ou menos e então a pessoa separou as suas e mais algumas peças para compensar as que não tinham sido recuperadas. Pronto, encerrou-se o caso e nunca mais se falou do assunto , pelo menos no ambiente oficial. Na nossa conversa , ele comentou : bem feito para aquele FDP , eu acabei ganhando !...E, então, quem roubou quem ? O engraçado nesta historinha e, de um modo geral é como as pessoas que mais têm , são mesmo as mais avarentas !...

Sarnelli , 24.05.2009



segunda-feira, 25 de maio de 2009

Desrespeito à faixa de segurança...





E os abusos continuam...

.... e niguém vê ! É só dar uma olhada na foto para ver como cada qual faz o que quer e bem entende numa cidade abandonada, onde nada funciona ! A foto que ilustra esta nota foi clicada esta manhã, segunda feira, dia 25 de maio , aproximadamente às 09,00 horas. Caminhão de entrega e distribuição de bebidas , estacionado em cima do passeio, jogando os pedestres no meio da rua em um local perigosíssimo . Pior de tudo, ocupando uma faixa de segurança. Como uma imagem vale mais que mil palavras, não há o que comentar ...Apenas lamentar que estamos vivendo um desgoverno total por parte da prefeitura. Onde andará a SET, ou seja, a agora TRANSALVADOR ? De 0 a 10, que nota você daria ao motorista do caminhão ? Recomendaria a sua reciclagem ?


quinta-feira, 21 de maio de 2009

Balas e bombons em " O baleiro " - delícias !










Parcial do balcão expositor de balas e bombons ´a delícia da garotada !





No meu tempo de criança e de estudante, existia a figura do baleiro que estava por todas as partes da cidade . Hoje, a profissão não existe mais e o modelo é outro. Era ainda na época em que a população se movimentava usando os bondes . Os baleiros se destacavam nas ruas , como os jornaleiros. Antes de mais nada, usavam fardas e transportavam as suas balas , bombons e chocolates , em cestos de vime apropriados, alongados, com alça, suportados por correias de couro , apoiadas nos ombros e atravessadas sobre o peito , para terem ambas as mãos livres. Os cestos , eram muito bem arrumados de maneira a caber a maior quantidade de mercadorias possível e o visual colorido , com tantas coisas, fazia água na boca e as delícias da meninada. Balas, bombons, chocolates de diversas qualidades , formatos e preços. Os baleiros, tinham o hábito de subir nos bondes , sempre usando os estribos de uma ponta à outra . Eram especialistas em pongar e despongar dos trombolhos em movimento , apesar do desequilíbrio causado pelo peso das cestasm que , forçosamente , tinham que estar sempre de um lado. Alguns tinham os seus pontos e outros , simplesmente , caminhavam , exibindo as suas mercadorias pela cidade . Como eu estudei no Antônio Vieira, mesmo morando no Rio Vermelho, ia pegar o bonde para voltar para casa, no Campo Grande, onde se encontravam alunos de três grandes colégios. Junto com a turma , sempre estava um baleiro conhecido por Diamante Negro , xará de um chocolate que existe até hoje, mas cuja qualidade piorou , embalado num papel preto , brilhante . Estou falando , ainda , dos anos 40- ( 1940 e alguma coisa ). Todos os dias encontrávamos o “ Diamante Negro “ no seu ponto do Campo Grande , com a cesta apoiada sobre uma mesa , no abrigo dos bondes , É lógico que ele , era amigos de todos nós. Ele havia sido expedicionário da FEB e, na volta , se dedicou àquele comércio de guloseimas. Um dia , certamente por volta de 45/46, o homem ouviu o ruído do motor de um avião que passava sobre o Campo Grande , que teve uma mudança de ritmo . Empalideceu e correu para o abrigo do bonde , que existia na época. Custou a se recuperar. Lembrança e medo dos dias em que passou no fronte , com aquele emblema da “ Cobra fumando “ em uma das mangas do uniforme... de arma nas mãos , muito medo das bombas e das balas alemãs...Foi algo que nunca mais Esqueci. Contei o fato , porque comecei falando de baleiros...De lá para cá, como tudo muda o tempo todo, os baleiros ambulantes com as suas cestas coloridas desapareceram do centro da cidade. Eles estavam presentes nas sessões de domingos e feriados dos cinemas . Não podiam faltar. Na sala de exibição podíamos chupar balas, comer chocolates, mas ainda não se podia comer pipocas como os americanos, muito menos levar refrigerantes, como hoje. Por muito tempo, não se viu baleiros pela cidade. Os bondes acabaram !... Agora , temos uma nova geração, com um colete aprovado pela Prefeitura , que os identificam, mas, não adianta muito não , porque qualquer um sobe pela porta da frente , invade os ônibus com as suas caixas, muitas delas improvisadas e unidas por uma quantidade enorme de fitas adesivas , na tentativa de conseguir alguns trocados. É um trabalho honesto , claro. Com eles , apareceram outros tipos oferecendo canetas, pentes , “ piranhas “, e ioiôs , até com direito a exibição dentro do veículo mesmo , e tudo o mais que a criatividade dos ambulantes possa achar que vende... Também sobem nos ônibus , vez por outra , pessoas que fazem uma cantilena, um discurso chato , campanhas diversas , em pró dessa ou daquela outra entidade, sempre com um forte apelo social , tentando sensibilizar os passageiros para o seu trabalho ... Tem um senhor cego que costuma subir com uma sanfoninha surrada e começa a cantar “Assum preto “ ao som desafinado da sua velha companheira de trabalho. Ele costuma estar na orla , no trajeto da Barra a Itapoã. Bem, vamos voltar ao shopping onde começou esta história ? Eu iniciei esta crônica por causa de um balcão simpático que conheço em um shopping da cidade . Não é muito grande , mas é muito bem bolado e gracioso . O detalhe é que , nada mais, nada menos, foi projetado por uma arquiteta com a orientação da sua proprietária. Em cores vivas e atraentes , ostenta a placa de “ O baleiro “ ,uma alusão, ou melhor , uma homenagem , aos profissionais da doçura de antigamente, fato que me chamou atenção . Muitas vezes passo por lá para dar uma olhada naquele colorido, na disciplina de como é arrumada cada coisa no seu lugar e para observar as pessoas de idade , avôs e avós , tias, provavelmente , que param para comprar um saquinho de balas, um chocolate, um belo pirulito de chocolate , para as netinhas ,netinhos ou sobrinhos. E, claro, a parada vale, também , para um papinho com a proprietária , sobre assuntos variados. Passam muitas mães com os seus filhinhos , que se encantam com a vitrine colorida e iluminada . Levam um tempinho para escolher o que desejam , o que não é difícil de entender, porque no meio de tantas coisas chamativas e gostosas, escolher uma ou duas , fica mesmo muito difícil para cabecinhas das crianças . Mas , com jeito , paciência e bom relacionamento com a sua freguesia , a idosa e a mirim , que são mesmo muito especiais ,diga-se de passagem , a proprietária resolve , tranqüilamente , os dilemas das escolhas de cada um.

Passam também algumas mocinhas que são freguesas do belo balcãozinho. Afinal , quem não gosta de balas e de chocolate ? Eu faço esta pergunta, justamente no dia em que conheci uma criança que, segundo a sua mãe disse, “ detesta” chocolate. Uma grande amiga minha também encrenca com o chocolate na forma de sorvete , que eu adoro .

Que gente , não gostar de chocolate ?!... Essa não ! Ainda mais agora que o chocolate,de vilão de antigamente, virou o mocinho de hoje ? Faz bem , desde que consumido com uma certa moderação , à saúde !...

Sarnelli, 16.05.2009


domingo, 17 de maio de 2009

As paradas e os pontos de ônibus de Salvador




Pontos de ônibus em Salvador

Olhem bem para as fotos que ilustram esta nota ! Uma demonstração evidente de que a prefeitura está se lixando para os usuários dos transportes coletivos, relegando ao abandono total a questão dos pontos de paradas dos coletivos , que são, em muitos casos , marcados apenas por uma placa azul, presa a um poste , pregada numa árvore ou amarrada a um poste . Onde não há outro jeito , colocam numa peça de madeira e é só ! Olhem bem para as fotos . Estão vendo um ponto sem a menor proteção, onde as pessoas ficam à mercê do sol e ou da chuva ? É de uma parada quase na esquina da rua Jequié com a Lucaia , no Rio Vermelho. A única sombra que há é a de um poste , e muitas pessoas tentam se proteger nela, mesmo que por pouco tempo, mas, como o sol se movimenta o dia todo...Nos dias de chuva, não há proteção alguma. Nem os pontos explorados por uma empresa para a exposição de publicidade, oferecem o menor conforto à população. Não protegem nem da chuva nem do sol. Por sinal, pelo menos um deles , localizado em frente ao Apart Hotel de Ondina, está sem o teto, há meses ... Há alguma explicação para isto ? Os abrigos que enfeitam a cidade não têem serventia alguma para a população. São apenas bonitos, inseridos na paisagem , mas só prestam mesmo para faturar com a colocação de propaganda comercial ...A prefeitura, através do seu órgão competente , precisa dedicar uma atenção especial ao assunto e cuidar um pouco melhor da população. O que é que é isso, gente !

Sarnelli, 16.05,2009


quinta-feira, 14 de maio de 2009

O abandono do Cristo da Barra , um absurdo !




Passaram-se os meses e não aconteceu nada !

Quem não conhece, em Salvador, a estátua do Cristo Salvador, que está instalada no cume do Morro do Cristo, na nossa orla marítima ? É um patrimônio da cidade

Inaugurado no dia 24.12.1920 em outra localização e depois transferido para a atual. É uma peça em mármore de Carrara, produzida na Itália, pelo escultor italiano Pasquale De Chirico, o mesmo que fez o Castro Alves , o Barão do Rio Branco, Tomé de Souza e outras obras importantes em Salvador. O Cristo Salvador, de Salvador, tem mais idade que o Cristo Redentor instalado no Corcovado, no Rio de Janeiro, que foi inaugurado quase 11anos depois, ou seja: em 12.10.1931. Foi uma doação à cidade do Desembargador José Botelho Benjamim . Portanto, é um patrimônio público, que deveria estar aos cuidados da nossa Prefeitura, através do seu órgão competente.

Mas é , exatamente, o que não acontece com o Cristo e com outros monumentos importantes da cidade. Desde o ano passado, que a coluna sobre a qual a bela estátua está colocada, está sem quatro placas de mármore preto, que foram roubadas. A despeito de diversas solicitações minhas, por ofício, mails e mesmo pessoalmente, nada foi feito . A situação já dura meses e, dentro em pouco, completará aniversário. Os turistas que estiveram aqui na temporada passada viram a obra daquele jeito e o abandono continua até hoje. A foto ( colagem ) que ilustra esta nota, é recente. Quem quer que passe pela avenida Oceânica, antiga Getúlio Vargas, verá, de longe , a falta de cuidado a que foi relegado um patrimônio precioso . Nova temporada está para chegar e os nossos futuros visitantes verão a mesma cena. Infelizmente, me parece que estou clamando aos ventos... Será que ninguém da Fundação Gregório de Matos, toma conhecimento do assunto e adota uma providência ? Afinal, é uma manutenção de baixo custo , numa obra de inestimável valor.

Sarnelli , 14,05,2009!


domingo, 10 de maio de 2009

As tampinhas plásticas do avô Bartolo





Em junho de 2004 quando completamos 50 anos de casados, tivemos que fazer uma opção. Uma festa convidando os amigos e agregados, ou uma viagem. Era tempo que a Paola desejava visitar São Luiz do Maranhão. Ela tinha visto tanta coisa na TV, que criou o desejo de ir até lá. Claro que optamos pela viagem e fomos diretamente para São Luiz onde ficamos algum tempo. Nós mesmos, fomos os nossos cicerones . Nos habituamos a ir almoçar diariamente , com exceção dos sábados e domingos , que, para nós , passaram a ser problemas, num restaurante do SESI , na verdade uma escola profissionalizante, formadora de garçons para o mercado.

Não fomos aos Lençóis maranhanses porque precisaríamos de uns três dias e eu considerei a excursão cansativa para as minhas condições de atleta já da terceira idade. Compramos alguns pequenos passeios locais .

De lá, fomos para Fortaleza. Pegamos um belo hotel na Av.Beira-mar, ponto chique e privilegiado na capital cearense , bem em frente ao calçadão e com direito a janela com vista para o mar e até aos pores-de-sol de todos os dias, que sempre foram maravilhosos. À tarde, íamos nos sentar à sombra de belas árvores apreciar o movimento de muita gente fazendo cooper e das madames passeando com os seus cãezinhos. Se vende de tudo no calçadão, mas a nossa preferência recaía na água de coco e no milho cozido , que passou a ser, praticamente, o nosso jantar de todos os dias . Depois, era só tomar um expresso num supermercado da rede Extra, pertinho do hotel.

E foi aí que começou a brincadeira das tampinhas. Aquelas garrafinhas que o hotel colocava no frigo-bar, eu as sorvia de uma só vez , eram caras e necessitávamos de muitas delas durante o dia. Devido ao calor, bebíamos muita água . Descobrimos, pela redondeza, um depósito de refrigerantes e de água. Assim , comprávamos diversas garrafas de 2 litros por dia e as colocávamos no frigo-bar. As garrafas vazias, eu as colocava no cestinho do banheiro e as tampinhas eu as jogava , displicentemente , numa sacola que permanecia sempre aberta e foram-se juntando. E a Paola sempre me perguntando: e o que é que você vai fazer com essas tampinhas ? Eu achava engraçado e continuei com a brincadeira, recolhendo tampinhas e jogando-as na sacola , sempre esperando a reclamação...

Já tinha uma boa quantidade , quando partimos para Recife, onde continuei a coleta. Voltamos para Salvador , dei seqüência à brincadeira onde quer que fosse, sempre sobre a pressão da pergunta:o que é que você vai fazer com essas tampinhas ? Um dia , separei 24 , 12 brancas e 12 vermelhas, enchi-as de cimento . Depois de secas , colei um feltro que recortei direitinho e pronto.Tinha preparado o conjunto de pedras para o meu tabuleiro de dama , cujas pedras originais ninguém mais sabe onde andam . O tempo foi passando e aos poucos fui deixando a brincadeira de lado , mas guardei as tais tampinhas.

Numa bela tarde, ao abrir o micro, encontro um mail do meu filho Cláudio, pai da Ximbiquinha. “ Preciso de tampinhas plásticas “ , dizia o mail. Respondi pela mesma via : “ explique melhor o que você quer “.Resposta : daquelas que você andou colecionando. É para a Ximbiquinha levar para a escola. A professora pediu ... Entendi que era para algum trabalho das crianças e achei graça. Eu tinha as tampinhas que agora teriam uma utilidade qualquer. Pedi a Teté , a secretária aqui de casa , uma figura engraçada , para verificar onde estavam e que trocasse de sacola . Levei-as para o trabalho de Cláudio e entreguei a encomenda. No almoço do dia das mães, que , por motivos prático , foi antecipado, este ano, para o sábado , perguntei à Julia, minha nora , quase que em tom de gozação , mas era gozação mesmo : foram suficientes , as tampinhas que mandei ? Ah, disse ela : a pró até que mandou agradecer porque parece que a quantidade que mandei resolveu o problema de todas as criança que tiveram dificuldades em conseguir as tampinhas. Mas eu não mandei todas não. Guardei a metade para quando ela pedir novamente ! No ano passado, a professora pediu que cada criança levasse 25 tampinhas de cerveja, logicamente que de metal. Tive dificuldade em conseguí-las e então recorri a um amigo dono de um bar na pracinha do acarajé ...

O que fizeram , não sei , mas, agora, pensando bem, vou continuar a coleta. Não vai demorar muito e a Graziela , a outra netinha , terá que ir para a escola . Certamente vai precisar das tampinhas que o maluco do avô anda enfiando no bolso por aí, deixando as pessoas curiosas !...Em casa, ninguém mais critica a minha mania de guardar as tampinhas, afinal , ficou provado que elas têm uma utilidade e o avô também...

Sarnelli ,10.05.2009


sexta-feira, 8 de maio de 2009

Salvador colorida , no Porto da Barra







Hoje, está indo ao ar uma crônica do meu amigo Reinhard , o simpático taverneiro dono do “ Bistrô Porto do Sol “ , bem ali no Porto da Barra , o austríaco mais baiano que conheço !




Você já reparou direito nas fotos que nos mandam do velho continente via e-mail?
Aquelas imagens eletrônicas que mostram amigos e conhecidos agasalhados de
braços abertos em meio a paisagens e cidades da Europa. Aquilo tem algo em comum...

Quando descobri o que era, resolvi fazer um estudo um tanto empírico, cujo
resultado não posso e nem quero guardar só para mim.

Decidi eliminar de meu estudo os 32% da área média das fotos contendo aqueles
turistas acenando para a câmera, o céu nem sempre azul, o mar, além de prédios
modernos e aqueles construídos com recursos financeiros oriundos das veias abertas
da América Latina. Detalhes que naquele momento não interessavam.

73% dos 68% restantes de área das fotos eram canteiros de flores e 31,5% passeios
e ruas limpíssimas com uma ou outra cesta de lixo, porém sem nenhum papelzinho
e sem baga de cigarro no chão.

Se esses retratos fossem tirados uns 15 dias atrás, mostrariam a terra dos canteiros
revirada, com jardineiros e paisagistas e seus respectivos aprendizes de macacão
removendo os restos de tulipas, de narcisos, preparando a terra para logo em seguida
plantar flores "de época". Os bulbos de tulipas e narcisos seriam guardados para
o ano vindouro, quando logo após o inverno irão alegrar novamente os olhos do
público.

O leitor atencioso deve estar sentindo falta de 0,5% de área das fotos de paisagens
e cidades europeias enviadas por e-mail. 0,5% em média, mostram transeuntes,
pedestres, gente esparsa ao longo de passeios e em meio a calçadões e praças.

O que as tais fotos não mostram é o tédio que eu sinto ao contemplar tamanha lindeza.
É verdade que paisagens e cidades cheias de flores são lindas, mas sem um pé de gente
são um pé no saco... com o perdão do trocadilho chulo.

Cheguei onde queria com essa crônica de pura apologia à nossa querida cidade do
Salvador... por ocasião dos festejos de meus 40 anos de Brasil e de Bahia.

Para quem não compreende o porquê eu ter decidido deixar a Áustria e preferir e adotar
esta terra apaixonantemente maluca, uma dica: mais vale a vida dessa gente colorida em nossas ruas e praças brasileiras do que todos os canteiros de flores do primeiro mundo.

Salvador, 8 de maio de 2009

Reinhard Lackinger


quarta-feira, 6 de maio de 2009

Assalto à beira-mar


Assalto à beira-mar

Aconteceu diversas vezes e já posso até dizer que sou um veterano . O que vou relatar neste texto ocorreu num mês de inverno, já tem bastante tempo. Eram quase sete horas da manhã quando estávamos voltando, eu e Paola. Do nosso cooper . O dia estava começando bastante nublado, com ventos relativamente fortes e fresquinhos e o mar se apresentava agitado com as ondas chegando às praias, e aos rochedos , produzindo aquela espuma branca que tanto gosto de ver e a maré estava baixa. Ondas indefinidas , melhor dizendo: mar encapelado e muita espuma no mar, na praia da Paciência. Adoro ver uma grande onda ir de encontro aos rochedos e, com o impacto, produzir aquela cortina de espuma...fico olhando, esperando sempre a próxima e a próxima...

Eram quase sete da manhã . Exatamente na cabeceira da escada ( veja o local na foto ) que leva à praia, já ali na Paciência , estava um jovem em pé sobre um montinho de terra coberto de grama, vestido com um blusão e calça comprida, segurando com a mão esquerda um pedaço de madeira onde estava enrolado um nylon preparado com um anzol e uma pena branca. Eu percebi o rapaz, e, à medida que me aproximava ,observei o panorama e pensei comigo mesmo: o que será que ele vai pescar com um mar como esse ? E ele olhava o mar , ou , pelo menos, dava a impressão de estar olhando !... Parecia um desses tantos pescadores que vemos a todos os instantes , observando a aproximação do peixe para lançar a sua linha. Até brinquei com ele. Com um mar como esse, o que é que vai pegar ? , disse-lhe. Mas ele, simplesmente , deu um passo lateral e interrompeu a minha passagem colocando na minha virilha uma pequena faca , segurando-a com a mão direita, parecida com aquelas que os sapateiros usam para cortar couro e disse: não resista e desça a escada . Gelei !.. Instintivamente , segurei-lhe o pulso direito parando a mão com a qual encostou a faca na minha virilha e ficamos assim por alguns segundos, não posso saber quantos . Percebi que os olhos do indivíduo brilhavam . Certamente, o efeito de alguma droga ! A minha cabeça estava quente , rodava a mil, tentando raciocinar e eu pensava: se descer esta escada com a minha mulher, será um desastre , não sei o que vai acontecer ! Ninguém verá nada ! Ninguém vai poder me ajudar . Quem percebeu a cena, não teve a coragem de me ajudar , continuou no seu caminho...

A Paola ainda não havia entendido nada ! Uma situação complicada ! Eu e ele ficamos frente a frente por alguns segundos. Eu segurando-lhe o pulso direito tentando afastar a faca do meu corpo e pensando numa provável saída , desde que não tivesse que descer a escada com a minha mulher... Eu lhe dizia: não faça isso e ele retrucava: não resista , desça a escada com a sua mulher. Na verdade , não tínhamos nada que pudesse ser levado. Tínhamos saído apenas para fazer o nosso cooper de uma hora e , portanto, não levávamos nada. E meliante viu no casal de idosos , vítimas fáceis e por isso fomos premiados . Mas eu tive uma reação inesperada ! Empurrei o cara, pulei para traz e gritei para Paola correr... Caí fora do passeio , abaixo do meio-fio , mas tive a sorte de não estar passando nenhum carro naquele momento. Pela minha reação , o malandro se assustou. Ficou entre eu e a Paola , indeciso e mais assustado ainda quando viu um risco de sangue na minha face esquerda. Aconteceu que naqueles movimentos , a faquinha com a qual me ameaçava, que estava afiadíssima , passou levemente pelo meu rosto , provocando um leve risco na pele através do qual o sangue apareceu. Eu nem senti. Assustado, desceu a escada correndo e sumiu. Tudo isso aconteceu em quantos segundos que não pude avaliar. Quanto tempo chegou a durar aquela situação só Deus sabe. Ainda com o rosto com aquele fiozinho de sangue,fui até a sétima delegacia , dei parte e pedi auxílio. Saímos num carro conduzido por um policial e mais um investigador, demos uma busca e não encontramos o cara. O meu ferimento, logo sarou e não ficou marca alguma. Se tivesse ficado, iria, certamente, ganhar o apelido de “ scar face “.

Meses depois, vi a fotografia do indivíduo na página policial de um jornal . A polícia havia tido um confronto com ele e o despachara para o outro lado...foi aí que tomei conhecimento de que o indivíduo era um velho conhecido e considerado um elemento perigoso. A gente nunca sabe com quem vai topar no meio da rua . Eu e minha mulher topamos com um bandido !

O detalhe foi que, aquela pessoa que estava nos esperando na curva , logo após o término da balaustrada , dava apenas a impressão de ser um tranqüilo e paciente pescador. Não dava para imaginar que estávamos indo de encontro a um assaltante...que parecia ser , apenas, um pescador... um modesto pescador , em busca do prato do dia !


Sarnelli – 1º,05.2009