quinta-feira, 21 de maio de 2009

Balas e bombons em " O baleiro " - delícias !










Parcial do balcão expositor de balas e bombons ´a delícia da garotada !





No meu tempo de criança e de estudante, existia a figura do baleiro que estava por todas as partes da cidade . Hoje, a profissão não existe mais e o modelo é outro. Era ainda na época em que a população se movimentava usando os bondes . Os baleiros se destacavam nas ruas , como os jornaleiros. Antes de mais nada, usavam fardas e transportavam as suas balas , bombons e chocolates , em cestos de vime apropriados, alongados, com alça, suportados por correias de couro , apoiadas nos ombros e atravessadas sobre o peito , para terem ambas as mãos livres. Os cestos , eram muito bem arrumados de maneira a caber a maior quantidade de mercadorias possível e o visual colorido , com tantas coisas, fazia água na boca e as delícias da meninada. Balas, bombons, chocolates de diversas qualidades , formatos e preços. Os baleiros, tinham o hábito de subir nos bondes , sempre usando os estribos de uma ponta à outra . Eram especialistas em pongar e despongar dos trombolhos em movimento , apesar do desequilíbrio causado pelo peso das cestasm que , forçosamente , tinham que estar sempre de um lado. Alguns tinham os seus pontos e outros , simplesmente , caminhavam , exibindo as suas mercadorias pela cidade . Como eu estudei no Antônio Vieira, mesmo morando no Rio Vermelho, ia pegar o bonde para voltar para casa, no Campo Grande, onde se encontravam alunos de três grandes colégios. Junto com a turma , sempre estava um baleiro conhecido por Diamante Negro , xará de um chocolate que existe até hoje, mas cuja qualidade piorou , embalado num papel preto , brilhante . Estou falando , ainda , dos anos 40- ( 1940 e alguma coisa ). Todos os dias encontrávamos o “ Diamante Negro “ no seu ponto do Campo Grande , com a cesta apoiada sobre uma mesa , no abrigo dos bondes , É lógico que ele , era amigos de todos nós. Ele havia sido expedicionário da FEB e, na volta , se dedicou àquele comércio de guloseimas. Um dia , certamente por volta de 45/46, o homem ouviu o ruído do motor de um avião que passava sobre o Campo Grande , que teve uma mudança de ritmo . Empalideceu e correu para o abrigo do bonde , que existia na época. Custou a se recuperar. Lembrança e medo dos dias em que passou no fronte , com aquele emblema da “ Cobra fumando “ em uma das mangas do uniforme... de arma nas mãos , muito medo das bombas e das balas alemãs...Foi algo que nunca mais Esqueci. Contei o fato , porque comecei falando de baleiros...De lá para cá, como tudo muda o tempo todo, os baleiros ambulantes com as suas cestas coloridas desapareceram do centro da cidade. Eles estavam presentes nas sessões de domingos e feriados dos cinemas . Não podiam faltar. Na sala de exibição podíamos chupar balas, comer chocolates, mas ainda não se podia comer pipocas como os americanos, muito menos levar refrigerantes, como hoje. Por muito tempo, não se viu baleiros pela cidade. Os bondes acabaram !... Agora , temos uma nova geração, com um colete aprovado pela Prefeitura , que os identificam, mas, não adianta muito não , porque qualquer um sobe pela porta da frente , invade os ônibus com as suas caixas, muitas delas improvisadas e unidas por uma quantidade enorme de fitas adesivas , na tentativa de conseguir alguns trocados. É um trabalho honesto , claro. Com eles , apareceram outros tipos oferecendo canetas, pentes , “ piranhas “, e ioiôs , até com direito a exibição dentro do veículo mesmo , e tudo o mais que a criatividade dos ambulantes possa achar que vende... Também sobem nos ônibus , vez por outra , pessoas que fazem uma cantilena, um discurso chato , campanhas diversas , em pró dessa ou daquela outra entidade, sempre com um forte apelo social , tentando sensibilizar os passageiros para o seu trabalho ... Tem um senhor cego que costuma subir com uma sanfoninha surrada e começa a cantar “Assum preto “ ao som desafinado da sua velha companheira de trabalho. Ele costuma estar na orla , no trajeto da Barra a Itapoã. Bem, vamos voltar ao shopping onde começou esta história ? Eu iniciei esta crônica por causa de um balcão simpático que conheço em um shopping da cidade . Não é muito grande , mas é muito bem bolado e gracioso . O detalhe é que , nada mais, nada menos, foi projetado por uma arquiteta com a orientação da sua proprietária. Em cores vivas e atraentes , ostenta a placa de “ O baleiro “ ,uma alusão, ou melhor , uma homenagem , aos profissionais da doçura de antigamente, fato que me chamou atenção . Muitas vezes passo por lá para dar uma olhada naquele colorido, na disciplina de como é arrumada cada coisa no seu lugar e para observar as pessoas de idade , avôs e avós , tias, provavelmente , que param para comprar um saquinho de balas, um chocolate, um belo pirulito de chocolate , para as netinhas ,netinhos ou sobrinhos. E, claro, a parada vale, também , para um papinho com a proprietária , sobre assuntos variados. Passam muitas mães com os seus filhinhos , que se encantam com a vitrine colorida e iluminada . Levam um tempinho para escolher o que desejam , o que não é difícil de entender, porque no meio de tantas coisas chamativas e gostosas, escolher uma ou duas , fica mesmo muito difícil para cabecinhas das crianças . Mas , com jeito , paciência e bom relacionamento com a sua freguesia , a idosa e a mirim , que são mesmo muito especiais ,diga-se de passagem , a proprietária resolve , tranqüilamente , os dilemas das escolhas de cada um.

Passam também algumas mocinhas que são freguesas do belo balcãozinho. Afinal , quem não gosta de balas e de chocolate ? Eu faço esta pergunta, justamente no dia em que conheci uma criança que, segundo a sua mãe disse, “ detesta” chocolate. Uma grande amiga minha também encrenca com o chocolate na forma de sorvete , que eu adoro .

Que gente , não gostar de chocolate ?!... Essa não ! Ainda mais agora que o chocolate,de vilão de antigamente, virou o mocinho de hoje ? Faz bem , desde que consumido com uma certa moderação , à saúde !...

Sarnelli, 16.05.2009


Um comentário:

  1. Vejam só! Tens uma amiga que NÃO gosta de chocolates? rsrsrsrs
    Bartolo, falando sério, esta crônica é uma doçura (e não somente por falar em doces). Trouxe todo o encantamento da figura dos baleiros. E me fez lembrar várias coisas. Uma delas, de uma professora muito jovem, que tive, cujo sonho era ganhar um daqueles vidros de guardar balas, nos antigos armazéns (aqueles com oito a dez espaços separados, girando sobre uma base fixa). Lembrei, também, da figura de um baleiro que conheço, que anda pelos ônibus. Só que ele, além das balas, vende rapaduras e, no verão, potinhos de sorvete (além das balas e chocolates).
    Os baleiros são uma doce imagem de tempos idos. Em que a vida podia ser alegrada com um saquinho de confeitos. E tua crônica trouxe de volta esta magia.
    Mudaram as figuras dos baleiros. Mas continuam a existir. Ainda bem!

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