quarta-feira, 6 de maio de 2009

Assalto à beira-mar


Assalto à beira-mar

Aconteceu diversas vezes e já posso até dizer que sou um veterano . O que vou relatar neste texto ocorreu num mês de inverno, já tem bastante tempo. Eram quase sete horas da manhã quando estávamos voltando, eu e Paola. Do nosso cooper . O dia estava começando bastante nublado, com ventos relativamente fortes e fresquinhos e o mar se apresentava agitado com as ondas chegando às praias, e aos rochedos , produzindo aquela espuma branca que tanto gosto de ver e a maré estava baixa. Ondas indefinidas , melhor dizendo: mar encapelado e muita espuma no mar, na praia da Paciência. Adoro ver uma grande onda ir de encontro aos rochedos e, com o impacto, produzir aquela cortina de espuma...fico olhando, esperando sempre a próxima e a próxima...

Eram quase sete da manhã . Exatamente na cabeceira da escada ( veja o local na foto ) que leva à praia, já ali na Paciência , estava um jovem em pé sobre um montinho de terra coberto de grama, vestido com um blusão e calça comprida, segurando com a mão esquerda um pedaço de madeira onde estava enrolado um nylon preparado com um anzol e uma pena branca. Eu percebi o rapaz, e, à medida que me aproximava ,observei o panorama e pensei comigo mesmo: o que será que ele vai pescar com um mar como esse ? E ele olhava o mar , ou , pelo menos, dava a impressão de estar olhando !... Parecia um desses tantos pescadores que vemos a todos os instantes , observando a aproximação do peixe para lançar a sua linha. Até brinquei com ele. Com um mar como esse, o que é que vai pegar ? , disse-lhe. Mas ele, simplesmente , deu um passo lateral e interrompeu a minha passagem colocando na minha virilha uma pequena faca , segurando-a com a mão direita, parecida com aquelas que os sapateiros usam para cortar couro e disse: não resista e desça a escada . Gelei !.. Instintivamente , segurei-lhe o pulso direito parando a mão com a qual encostou a faca na minha virilha e ficamos assim por alguns segundos, não posso saber quantos . Percebi que os olhos do indivíduo brilhavam . Certamente, o efeito de alguma droga ! A minha cabeça estava quente , rodava a mil, tentando raciocinar e eu pensava: se descer esta escada com a minha mulher, será um desastre , não sei o que vai acontecer ! Ninguém verá nada ! Ninguém vai poder me ajudar . Quem percebeu a cena, não teve a coragem de me ajudar , continuou no seu caminho...

A Paola ainda não havia entendido nada ! Uma situação complicada ! Eu e ele ficamos frente a frente por alguns segundos. Eu segurando-lhe o pulso direito tentando afastar a faca do meu corpo e pensando numa provável saída , desde que não tivesse que descer a escada com a minha mulher... Eu lhe dizia: não faça isso e ele retrucava: não resista , desça a escada com a sua mulher. Na verdade , não tínhamos nada que pudesse ser levado. Tínhamos saído apenas para fazer o nosso cooper de uma hora e , portanto, não levávamos nada. E meliante viu no casal de idosos , vítimas fáceis e por isso fomos premiados . Mas eu tive uma reação inesperada ! Empurrei o cara, pulei para traz e gritei para Paola correr... Caí fora do passeio , abaixo do meio-fio , mas tive a sorte de não estar passando nenhum carro naquele momento. Pela minha reação , o malandro se assustou. Ficou entre eu e a Paola , indeciso e mais assustado ainda quando viu um risco de sangue na minha face esquerda. Aconteceu que naqueles movimentos , a faquinha com a qual me ameaçava, que estava afiadíssima , passou levemente pelo meu rosto , provocando um leve risco na pele através do qual o sangue apareceu. Eu nem senti. Assustado, desceu a escada correndo e sumiu. Tudo isso aconteceu em quantos segundos que não pude avaliar. Quanto tempo chegou a durar aquela situação só Deus sabe. Ainda com o rosto com aquele fiozinho de sangue,fui até a sétima delegacia , dei parte e pedi auxílio. Saímos num carro conduzido por um policial e mais um investigador, demos uma busca e não encontramos o cara. O meu ferimento, logo sarou e não ficou marca alguma. Se tivesse ficado, iria, certamente, ganhar o apelido de “ scar face “.

Meses depois, vi a fotografia do indivíduo na página policial de um jornal . A polícia havia tido um confronto com ele e o despachara para o outro lado...foi aí que tomei conhecimento de que o indivíduo era um velho conhecido e considerado um elemento perigoso. A gente nunca sabe com quem vai topar no meio da rua . Eu e minha mulher topamos com um bandido !

O detalhe foi que, aquela pessoa que estava nos esperando na curva , logo após o término da balaustrada , dava apenas a impressão de ser um tranqüilo e paciente pescador. Não dava para imaginar que estávamos indo de encontro a um assaltante...que parecia ser , apenas, um pescador... um modesto pescador , em busca do prato do dia !


Sarnelli – 1º,05.2009


Um comentário:

  1. Agiste rapidamente, mas correste um belo risco, Bartolo! Ainda bem que tudo deu certo! Mas penso (imagino) que após uma situação assim a gente leve um bom tempo para recuperar-se e voltar a andar com naturalidade e sem sobressaltos pelos lugares. Estarei enganada?
    Sempre tenho medo quando penso em assaltos: acho que reagir é algo bastante instintivo. E, muitas vezes, o assaltante pode ser mais rápido do que a vítima...
    Enfim, fico feliz que, no teu caso e de Paola, tenhas conseguido assustar e intimidar o bandido!
    Escreva mais! Escreva sempre!
    Eu já estava sentindo falta destas tuas histórias, nos teus blogs!
    Abraços.

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