Forte de Santa Maria, na praia do Porto da Barra , na minha opinião a melhor de Salvador. Esta foto está aqui apenas para ilustrar o texto que virá a seguir.
Um passeio a Campos de Jordão
Início dos anos 50 , estava em Santos por motivo de trabalho. Tinha dois amigos que moravam perto de casa , um deles sobrinho do pároco da Igreja do bairro , a Igreja de Nossa Senhora de Pompéia.
Éramos praticamente inseparáveis às noites e nos dias de folga , pois cada um de nós tinha o seu trabalho. Foi quando a sobrinha do Padre se casou na igreja do tio e eu fui convidado pelo Moacir, sobrinho do padre , a ir com ele, junto com o Afonso,o terceiro homem , até Campos de Jordão. A nossa missão era levar o casal em lua de mel. Claro que topei ! Era época de férias mesmo ! Época de temporada, fins de janeiro, início de fevereiro, não me lembro com certeza absoluta, mas foi nesse época. Era verão O Moacir dispunha de um Ford 40 que não estava em bom estado . Além das bagagens, carregamos até alguns pneus , pois não confiávamos nos nossos e providenciamos tudo o que achávamos que precisaríamos na viagem e durante os dias em que ficaríamos em Campos . Os noivos ficariam lá e nós voltaríamos por nossa conta. Os problemas começaram bem cedinho. Na saída de Santos, na subida da Serra para São Paulo, onde foi necessário parar diversas vezes para esfriar a máquina e colocar água no radiador. Quando pegávamos um trecho plano , tudo ia mais ou menos bem,mas era preciso tomar cuidados com os com os freios O carro, praticamente , não os tinha... Em suma, tínhamos um calhambeque cheio de problemas e três jovens dispostos à aventura . Passamos por São Paulo, com bastantes cuidados, pegamos a via Dutra , que, na época, não era tão movimentada ,e fomos em frente . Tivemos que mudar de estrada e foi aí que os problemas de verdade começaram a acontecer. Nos primeiros quilômetros , uma bela paisagem de campos com gado pastando tranqüilamente, uma casinha aqui, outra acolá , encarapitadas sobre uma colina , ao longe, rodeadas de árvores frondosas que deveriam estar fornecendo aquela sombra amiga àquelas casinhas quase solitárias envoltas por tanto espaço e tranqüilas. A paisagem se repetia . Mas, sempre existe o mas... quando começaram a surgir as subidas o velho Ford 40 começava a cansar das pernas, quero dizer, das rodas e do radiador.. Era preciso parar de vez em quando, deixar esfriar o motor, recolocar água, que precisávamos sempre providenciar e ter à mão para não ficar sem e pelo caminho, e seguíamos aos pedaços, ou trechos por trechos, como preferirem. Não esquecer que éramos em cinco , as bagagens e as subidas . Mas precisávamos controlar as descidas também, o que era feito através da caixa de marcha e com aquele pouco freio que restava. Em alguns momentos foi preciso que eu de um lado e Afonso do outro, descessemos para segurar o carro no muque ajudando-o a parar. Isto, sem contar alguns pneus explodidos. Mas explodidos mesmo! Mas, como tínhamos “ aquela reserva “ no bagageiro, deu para chegar ao nosso destino depois de tanto subir e descer por ladeiras. Foi uma viagem de horas, de tensão, que nos deixou exaustos. Finalmente, chegamos a Campos de Jordão !
Deixamos o casal num hotel e, como não tínhamos reserva alguma, saímos à procura. Encontramos uma pousada sobre uma pequena colina e com muito custo , conseguimos um quarto com uma cama de casal ! O que foi difícil, foi determinar quem dormiria no meio, mas houve negociação e, durante os dias que lá estivemos, houve alternância . A pousada, do jeito que era, servia para nós. Jovens, solteiros, com a grana curta ,iríamos passar mesmo o dia pelas ruas... O chato foi que as divisões eram de madeira e o nosso vizinho, soubemos que era um escritor, mas nunca lhe vimos a cara . À noite, fazíamos um pouco de barulho com conversas e risadas que incomodavam o intelectual do lado...Felizmente fomos embora antes que nos expulsassem...
Num dos nossos passeios, aconteceu uma coisa engraçada. Estávamos caminhando por uma espécie de parque, quando eu vi uma tabuleta com uma seta , presa a uma árvore. Hei, pessoal ! Uma cachoeira, vamos vê-la ? Claro, os dois concordaram e lá fomos nós. Caminhamos um bom tempo e nada de cachoeira. Passou um caboclo montado num cavalo magro , lembrando o Rossinante de Don Quixote , com quem começamos uma conversa, inicialmente sobre o tempo na região . É... o tempo aqui é danado . Quem ta bão fica doente e quem está doente morre ,. Disse ele...! rsrsrsrsr . Mas diga aí mestre , quanto tempo falta para chegarmos à cachoeira ? Cachoeira ? Não sei não sinhô . Mas eu vi uma placa grudada numa árvore ali adiante ! Ah, moço . Não é cachoeira não. O que tem daqui pra adiante é uma cocheira ! Caí do cavalo ! Na volta fui conferir a placa. Lá estava “ cocheira “ e a seta indicando a direção. Nunca chegamos à ela. Voltamos à cidade , ainda por volta das 11 da manhã e entramos num boteco muito simples , pedindo umas loirinhas geladas. Estávamos em pleno verão, embora estivéssemos usando malha com mangas compridas. O homem se abaixou e pegou duas garrafas de cerveja que estavam no chão de cimento e encostadas à parede e eu lhe disse : Senhor, nós queremos a cerveja gelada ! Num se preocupe, tão geladas . E estavam mesmo !
Voltamos para Santos, numa reedição da viagem de ida. Os mesmos transtornos da ida mas já éramos veteranos e chegamos inteirinhos em casa.
Sarnelli
09.07.2009
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